quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Grandes livros para pequenos leitores #27 - Onde perdeu a Lua o riso?

Mais uma história da biblioteca: "Onde perdeu a lua o riso?". Este livro tem um texto curto e simples, que ganha vida com as imagens expressivas que o ilustram.
Daniel questiona onde perdeu a Lua o riso: uma vez, outra e outra... Porque reconhece a importância de rir. Faz-lhe confusão não saber do riso de Lua. E quando a mãe não lhe sabe dizer onde ele está, o menino parte à procura do riso da irmã.
Onde terá a Lua perdido o riso? "Na barriga da cabra? Sobre o bico da pata? Entre os ovos das galinhas? Debaixo do escano da cozinha?"
O meu miúdo memorizou o texto correspondente a cada ilustração: à medida que vai folheando o livro, vai contanto a história em voz alta.
No final lê-se: "...uma lua barriguda morria de riso...". O miúdo é literal e faz beiço porque a Lua morreu de riso. Quer ver a Lua rir à gargalhada, mas não que morra de riso. Se rir é uma coisa tão boa, por que raio morre a  Lua (ainda que seja de riso). Lá lhe expliquei que neste caso a palavra "morrer" tem outro significado, quer dizer outra coisa, quer dizer que ela ri muito, muito, muito.  Termino esta história a fazer-lhe cócegas. E a ouvi-lo rir. E hoje, dia 24, é dia de "comemorar a rir".

É um livro de Miriam Sánchez e Federico Fernández, da editora Kalandraka.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Reflexões profundas (ou não) #34 - Dirty Dancing tem 30 anos!?

Dirty Dancing tem 30 anos!? Deve ser para me lembrar que amanhã completo mais uma volta de vida. 
Vi este filme dezenas de vezes, deve ser a cassete de vídeo mais vista de sempre (na minha casa). 


Vi esta cena tantas, tantas, tantas vezes.


Dizer que o Patrick Swayze foi o responsável por tantas visualizações deste filme será injusto, mas.... Também gostei muito de o ver na série "Norte e Sul". Em todas as brincadeiras alusivas à representação desta série, eu era a Madeline. Sim, só porque ele era o Orry Main.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Logo, quando chegar a casa, quero pedir-te desculpa

Logo, quando chegar a casa, quero pedir-te desculpa: fui brusca contigo esta noite.
Posso dizer-de que estou cansada. Que há mais de uma semana que acordas às 6 e pouco da manhã. Que perdi a conta ao número de vezes que acordaste esta noite: primeiro na tua cama, depois na minha, por quereres fazer xixi no bacio, por fazeres xixi na cama, por quereres água ou por não conseguires respirar em condições. Por tudo e por "nada" - digo eu, que por nada é que não foi. Que andas chato, birrento, a lamuriar-te vezes a mais. Que às vezes demonstro que estou cansada elevando o tom de voz, que estou farta de te ouvir fazer birras. Que às vezes estás cansado, que agora estás doente, que outras é só porque sim. Que o meu cansaço se arrasta. É verdade que é um cansaço físico, mas não só. Estou cansada, principalmente, por ainda não ter aprendido a lidar com as diferenças que existem entre nós: entre a energia que se excede em ti e a que me falta a mim; entre o meu cansaço e a tua luta contra o teu; entre as tuas escolhas e as minhas. Posso dizer-te muita coisa, encontrarei muitas desculpas para me justificar. Mas, por agora, só quero mesmo pedir-te desculpa. Desculpa, filho.

 Imagem retirada da Internet: fonte desconhecida

Estou na hora de almoço. Já pensei em ti muitas vezes, deve ser a culpa. Estou para aqui a pensar que se eu estou cansada, tu deves estar de rastos. E que ainda assim, foste à escola. Estou a pensar que, logo hoje, tenho tanta coisa para fazer. Hoje, que tenho tanta pressa em abraçar-te, vou sair mais tarde.
E tu, querido dia, não podes negar que és segunda feira. Mas não te esqueças que és só o começo, o final escolho eu.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Novamente à conversa "comigo mesma": o que é isso da igualdade de oportunidades?

Falo comigo muitas vezes, a verdade é esta.
Há algum tempo que questiono o que é isso da igualdade de oportunidades/de direitos. Isso existe? Ou será apenas um trio de palavras arrumadas estrategicamente para agradar a maioria.
É claro que todos os seres humanos deveriam ter as suas necessidades mais básicas satisfeitas e deveriam viver com dignidade. Estou a falar de coisas que vão para além dessas necessidades básicas, até porque a definição de "viver com dignidade" já pode conter alguma subjetividade. No caso da educação estou sempre a questionar o que é e em que consiste a igualdade de oportunidades, já escrevi sobre isso aqui.

Alguns direitos que considero essenciais (não estão enunciados por ordem de importância):

Todos têm o direito de ter filhos. 
Claro que sim. Mas a verdade é que uns conseguem, outros não. Umas engravidam só de pensar (isto é uma metáfora, não acreditem nisto), outras sujeitam-se a inúmeras frustrações consecutivas que se traduzem, muitos vezes, num sem número de tratamentos. Uns podem, outros não. Uns conseguem ter um filho, outros conseguem ter quatro filhos. Uns querem ter, outros não querem.

Todos têm o direito de sentir segurança e amor.
Basta lembrar alguma família menos funcional em que a segurança e demonstração de amor são conceitos abstractos ou inexistentes. Nestas situações, por vezes, até pode aparecer alguém a querer ajudar, a querer colmatar falhas, mas nem sempre estas tentativas são bem sucedidas: há pessoas que aceitam; outras não sabem aceitar; outras não querem aceitar. Como se faz para que todos tenham a oportunidade de sentir isto? Todos precisam disto na mesma quantidade?

Todos têm o direito a ter uma casa.
Sabemos muito bem que nem todos têm. E há quem diga que muitos não querem ter.

Todos têm o direito à Educação.
Claro que sim. Mas todos têm direito à educação que querem? E, já agora, todos querem?

Todas as crianças têm o direito de frequentar uma Escola Pública de qualidade a partir dos 3 anos.
Claro que sim. Mas a verdade é que uns querem, outros não. Nem todos os que têm 3 anos conseguem frequentar o ensino público. E os que frequentam, nem todos estão na sua primeira opção, aquela que é mais benéfica para si. E o que é isso de uma escola Pública de qualidade? E os que precisavam de uma Escola Pública antes dos 3 anos? Possivelmente têm de fazer uma triagem logo no primeiro ponto relativamente ao número de filhos.
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Todos têm o direito de usufruir de um Plano de Vacinação, independentemente das suas possibilidades financeiras. 
Claro que sim. Mas a verdade é que uns querem, outros não. Uns querem administrar todas as vacinas à sua descendência, outros, com algum dinheiro extra, conseguem administrar as que se encontram fora do Plano Nacional de Vacinação. 

Todos têm direito a um Plano/Seguro de Saúde.
Claro que sim. Mas algumas crianças são acompanhadas por pediatras, outras por médicos de Clínica Geral no Centro de Saúde (não retirando o mérito aos médicos do Centro de Saúde, mas neste momento não há Pediatra no Centro de Saúde da minha área de residência, por exemplo - não me digam que o médico de Clínica Geral faz o papel do pediatra: então porque é que existe a especialidade?.

Todos têm direito a uma alimentação saudável.
Claro que sim. Mas sei bem a diferença de valores entre os produtos biológicos e os "não biológicos", por exemplo.

Todos deviam ter direito a muita coisa. Isto da igualdade de oportunidades, apesar da boa intenção, dá muito que falar: escrevi sobre coisas que considero essenciais (segurança, amor, saúde, alimentação, educação...), mas até nestes pontos não estamos todos de acordo. A verdade é que não queremos todos as mesmas oportunidades. A verdade é que é muito, muito difícil que todos tenham acesso às mesmas oportunidades, por vários motivos. Como é que fazemos?

Eu queria ter 2 ou 3 filhos e ter disponibilidade financeira e mental para os acompanhar. Queria ter tempo para eles. Queria trabalhar no que gosto, sair cedo e ganhar para os gastos. Queria viver feliz, sem discussões domésticas mesquinhas e sem importância que me consomem. Queria poder comprar tudo na mercearia biológica da minha terra. Queria poder administrar todas as vacinas que, apesar de todos os pontos de vista discutidos, me sossegam a alma; pelo menos fico mais sossegada com elas administradas do que sem elas. Queria ficar com o miúdo a tempo inteiro até aos dois anos (isto já lá vai, ele vai fazer 4), parcialmente até aos 4 e não estar mais do que 6/7 horas diárias longe dele. Mas também queria ter 1 hora diária para fazer o que me apetece, de modo a garantir o alinhamento dos chácaras (seja lá o que isso for, acho que um bom alinhamento faz sempre bem). Queria tirar o mestrado na área da Educação. Queria escolher a educadora e a escola do meu filho. Queria ter um papel ativo na educação do meu filho. Queria ter uma auto-caravana e substituir alguns dias de escola do miúdo por viagens nesta casa ambulante sonhada. Queria ter uma saúde de ferro e poder dispensar as visitas aos médicos (dispensava as minhas e as dos meus). Queria viajar fora de Portugal de quando em vez e viajar muitas vezes cá dentro. Queria uma casa simples e arrumada com um espaço exterior. Queria um carro económico (não sendo muito, muito económico, até ficava com o que temos). Ou então vestia a vontade do meu filho que gostava mesmo era de viver "nas férias"... Talvez seja só porque precise muito de férias, mas desconfio que me habituava facilmente a este cenário hipotético.
Para dizer a verdade, eu queria que investissem em práticas e políticas que nos fizessem viver bem e felizes, sendo que este "viver bem e feliz" fosse feito à medida de cada um: sim, eu queria ganhar menos, consequentemente trabalhar menos (apesar de ganhar pouco), ter mais tempo para o que me faz bem à alma, ter menos bens materiais (talvez tivesse de desistir da auto-caravana; desistia antes de viajar fora de Portugal), abdicar de coisas que (para mim) são secundárias. Quem quisesse trabalhar mais, ganhar mais, viajar mais, ter um carro melhor, uma casa maior, força. Os sonhos de uns não têm de empatar os sonhos dos outros. Nem os sonhos de uns são melhores dos que os dos outros. Cada um com os seus.
Estas são algumas das minhas vontades e representam o que valorizo. Cada um tem as suas vontades, as suas preferências, os seus sonhos. Teremos todos a oportunidade de os cumprir? Bem, pelo menos todos temos a oportunidade de tentar. Ou não... que isso de se dizer que querer é poder, não é bem assim. Apesar de o querer ser muito importante, nem nisto, a que chamamos oportunidade de tentar, há igualdade.

a fugir de um dia de escola (dito normal)... 
 Imagem retirada daqui

Alguém que me conhece bem diz que tenho de resolver os problemas que tive com a escola que frequentei e com a aluna que fui. Tem razão. Não anulando as minhas opiniões sobre o assunto "Educação", não devo assumir que o meu filho terá os mesmos problemas/as mesmas dificuldades. Esforçar-me-ei por não fazê-lo.  
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Esta divagação pode conter muita utopia, mas estamos em Agosto, não tarda muito estou a completar mais uma volta de vida, falta pouco para ir de férias... Apetece-me divagar.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Birras de felicidade

Escrito assim até se pode pensar que estou louca, que uma birra não traz felicidade a ninguém, apesar de sabermos que faz parte do crescimento, que é importante para o desenvolvimento, blá, blá, blá (sem desvalorizar o blá, blá, blá). A questão é que o miúdo anda tão, mas tão feliz, que não sabe bem como gerir tamanha felicidade. Ou melhor, não sabe gerir a excitação, o cansaço e o sono que se acumulam com tanta felicidade.

Perante uma semana com muitos motivos para andar feliz da vida, fez birras, andou agressivo. Bateu-me, bateu na avó, bateu no pai, levantou a mão à tia ou bateu-lhe mesmo (não percebi bem), empurrou uma menina no parque, bateu na prima (ela ignora que ele lhe bate, mas... eu não lido bem com isto). Fez birra porque não quis levar as crocs, fez birra porque quis vestir sempre camisolas de alças, fez birra porque quis comer sempre papa... Fez birras. Muitas. A tia acha que lhe deu muito mimo, acha que a culpa é dela. Não, não é. Ele anda efectivamente feliz, porque adora ir ao parque com as duas (tia e prima), gosta de jantar com elas, gosta do mimo da tia e das brincadeiras com a prima. Só temos de lhe agradecer por isso e pelo tempo que lhe dedicou. Mas ele não está bem. Está muito, muito cansado.

Falámos com a auxiliar da sala dele: não quer dormir a sesta, é sempre o último a adormecer, não dorme mais do que meia hora. Nestes dias, em que muitos miúdos estão de férias, ele brinca e corre muito mais do que o normal na escola. Depois da escola, brinca mais do que o habitual porque tem a adorada prima à sua disposição, deita-se mais tarde, anda excitado com tantas possibilidades de diversão. Parece-me que quer aproveitar o melhor de todos os lados, mas não consegue lidar com o cansaço que sente, acho até que o tenta contrariar. 

Na quarta feira à noite houve birra digna de palco (salvo seja, tomara eu esquecer-me que ela existiu, quanto mais elevá-la a este nível). Eu contrariei o que achei que tinha de contrariar, mas comecei a pensar em estratégias. Porque não fiquei bem comigo mesma, porque achei que podia ter feito de forma diferente.


Quando consigo prever, ou colocar na equação dos dias, que as coisas podem correr menos bem, consigo criar estratégias simples que funcionam com ele (e comigo): digo as coisa num tom calmo, meigo até, mas firme, sem grande manobra de divagação; digo-lhe o que vamos fazer e oriento-o nesse sentido. Quando não consigo prever, quando estou muito cansada ou apressada, eu própria faço birra e a coisa culmina com o aumento de cansaço para os dois. No fundo, acho que o desenvolvimento desta minha capacidade, de previsão ou contemplação de birras no dia a dia, pode funcionar  como um controlador de stress. Só preciso de aperfeiçoar a técnica. :)
No dia seguinte à birra monumental, o adormecer foi tranquilo, com uma história contada num tom de voz baixo e com regras: é hora de ouvir a história, só ouvir; de te virares para o teu lado preferido; de sossegares; se estas condições não estiverem reunidas, eu não posso ler. Só leio uma história. Depois, desejei-lhe boa noite e beijo-o. Apaguei a luz. Deitei-me ao seu lado. Deu umas voltas e adormeceu. Dormiu a noite toda. Com ele resultou.
Quando se levantou e veio na minha direção, ainda com um olho aberto e outro fechado, peguei-o ao colo e deixei-o acordar calmamente. Beijei-o, passei-lhe as mãos pelo rosto, perguntei-lhe se tinha dormido bem. Já quase a sair de casa, disse-lhe que tinha de levar as crocs, porque tinha jogos com água na escola. Disse-lhe que tinha uma camisola para vestir que, por acaso, era de alças. Perguntou-me se podia comer papa - não podia, a papa acabou e eu nos próximos tempos não vou comprar mais (já lho disse e já lhe expliquei o motivo, não repeti mais a justificação), comeu iogurte com cereais. Dei-lhe o abraço e o beijo do costume e pedi-lhe que ajudasse o pai (depois de eu sair ele fica só com o pai, é ele que o leva à escola na maioria dos dias). Ajudou. O final do dia de quinta feira correu bem e o início de sexta também. No sábado e no domingo fez sestas de quase 3 horas na tranquilidade da nossa casa.
Conversei com ele sobre o facto de andar tão cansado e de ter feito tantas birras, sugeri que tentasse descansar mais na escola. Disse-me que não gosta de dormir na escola, que quer dormir na Ama. Hoje levou um boneco para o ajudar a adormecer na escola. Vamos ver como corre.

Ele ainda precisa de dormir à tarde, mas não descansa na escola como em casa. Isto é um problema. Ele fica elétrico, fica completamente desnorteado. E nós, se não encontrarmos estratégias ou se não conseguirmos que ele descanse mais, também. Um dos motivos de não o inscrevermos num JI Público foi precisamente o facto de não poder dormir a sesta, mas mesmo no privado e com esta possibilidade, estamos a deparar-nos com esta dificuldade. Vou voltar ao meu horário normal (tenho feito horas extraordinárias) e penso que isso ajudará.
Lembro-me de a minha sobrinha passar por uma fase semelhante (um pouco diferente), em que todos os colegas da turma conseguiam ver um filme, por exemplo, e ela não. Não conseguia estar quieta. A educadora (do JI) acabou por sugerir que alguém a fosse buscar às 15h00 (que ela não ficasse na escola depois das 15h para as atividades), se fosse possível. No caso dela, com 5 anos, foi possível e resultou: ela precisava de dormir a sesta. E quando isto não é possível e os comportamentos fora do normal se mantêm e se arrastam no tempo? Quais são as dificuldades e os problemas que daqui advêm? Muitos, penso eu.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Reflexões profundas (ou não) #33 - Férias antes das férias

Ela está em contagem decrescente para ir de férias: faltam 3 semanas. Está estafada, farta da rotina, cansada de sapatos e de roupas apertadas e engomadas. Por vezes, jura que é capaz de partir o telemóvel só porque o intrometido tem a mania de tocar à hora marcada. Para agravar este quadro, a sua colega foi de férias e ela tem de fazer horas extraordinárias. As ordinárias das horas pesam-lhe. O sócio do seu companheiro-amigo-namorado também foi de férias e o dito chega a casa quando o miúdo já dorme. A casa continua sem se arrumar. A empregada foi de férias mesmo antes de ser admitida. Brinquedos e livros saltam das prateleiras sem ninguém perceber o motivo. Roupa suja multiplica-se. E, sabe-se lá porquê, as pessoas que habitam a mesma casa que ela têm de comer todos os dias. Mas a tia do miúdo ofereceu-se (leia-se exigiu) para ir buscar o miúdo à escola, para lhe dar banho e para lhe dar o jantar toda a semana. Se isto não são "férias antes das férias", não sei o que serão.
Só um pedido dela, que pedir não custa: férias depois das férias, também se arranjam? Sim, ela sabe que vai precisar, é uma visionária.

E com tudo isto, o miúdo da minha vida vai andar feliz da sua porque vai estar com a prima todos os dias. A prima é, definitivamente, um dos grandes amores da sua vida. O outro sou eu... acho eu.  

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Frase para o (meu) mês de Agosto: deixem-me da mão, calem-se todos, que eu quero ser mãe só por intuição

Deixem-me ser mãe só por intuição. Deixem-me despir as teorias que eu própria vesti, convencida de que me assentam bem. Deixem de me gritar as (pseudo) teorias em dialectos que não compreendo, talvez eu não tenha grande vocação para a interpretação. Deixem de publicitar boas práticas embrulhadas em palavras caras, porque o meu orçamento não me permite adquiri-las. Deixem-me deitar fora os meus preconceitos, não os vou dar a ninguém já que a ninguém fazem falta. Deixem-me da mão. Deixem-me ser mãe só por intuição.

É difícil contrariar o que me é natural desde sempre, contrariar a minha experiência de vida, contrariar tudo o que vivi e tudo o que fez de mim o que sou. Mas cheguei à conclusão que também não é fácil navegar contra a minha essência. E que esta até pode ter aspetos razoáveis. Nesta coisa que é a prática quotidiana da maternidade é impossível fazer tudo certo, já o sei há muito. Sempre o soube. Mas há momentos em que as coisas menos certas se sucedem, como um extenso comboio que passa à nossa frente, que nos impede de passar para o outro lado da linha, com uma locomotiva seguida de uma carruagem, e de outra, e de outra, com aquela música de fundo a toda a velocidade, sem hipótese de parar, só com o destino como alvo. Até que, de repente, ouves aquele apito sonoro e imponente, os teus alarmes internos disparam, arregalas os olhos e fixas o olhar no outro lado da linha, mesmo com o comboio a passar a todo o vapor. Porque sabes e porque sentes que é para ali que deves ir: para o outro lado da linha. Assim sendo, às vezes fazes tudo errado, mas consciente do que (para ti) é certo. Então, começas a caminhar no sentido inverso ao do comboio, desvias-te dos maus caminhos que se apresentam e voltas ao teu lado da linha, ao lugar certo (para ti). Foi a tua essência que to disse. E aos alarmes internos que disparam e que te repreendem chamas de "minha intuição". E se assim o é, deixem-me da mão, calem-se todos, que eu quero ser mãe só por intuição. E aquela frase de que "não andamos aqui só a ver passar os comboios" faz todo o sentido. Apanhamos os que nos levam a destinos desejados e ignoramos os demais.


Imagem retirada da Internet: fonte desconhecida

Há teorias interessantes, há exemplos inspiradores, há relatos motivadores. Mas também há teorias extenuantes, rebuscadas, desinteressantes. E eu estou numa fase em que já não consigo aceitar, nem sequer ouvir, tudo o que têm para me dizer. O que eu preciso é de me ouvir mais, já que denoto um conflito entre o que a atribulação dos dias e vivências passadas me levam a fazer e o que eu quero fazer; entre o que sou e o que fizeram que eu seja (consciente de que a essência que me calhou não é feita apenas de virtudes nem herdei só defeitos). Para isto preciso de silêncio. É só isto.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Olá Agosto de 2017

Agosto é, por excelência, um mês de comemorações. É festeiro. É rebelde. É forte. É desobediente. É boémio. É descontraído. É livre. É meu. É, literalmente, o meu mês. Espero que me reserve dias de praia, dias de piqueniques, passeios, aniversários, início de férias.
E nos últimos dias deste mês esperam-me: uma viagem de barco, uma ilha, um passadiço como este, um mergulho no meu mar (um de cada vez), uma casa pequena, uma família junta.  

Imagem retirada da Internet (fonte desconhecida)

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Olá e Adeus meu querido mês de Julho de 2017

Despedi-me de Junho com tanta pressa que acabei por me esquecer de cumprimentar Julho. E agora que já estou com os pés em Agosto é que me deu para as lamechices Julinas - costumamos falar em festa Junina, mas permito-me adaptar o léxico das lamechices aos meses de que falo.
Julho, não foste propriamente um mês maravilhoso, mas já me habituei que não o sejas. Não reclamo nem lamento. Foco-me apenas no bem que me trazes e aproveito os rochedos sinuosos que plantas à minha frente para treinar a elasticidade, a força e o equilíbrio. Escalo o paredão, por vezes sem corda nem grande proteção, e quando chego ao cume decido se passo para a outra margem descendo vertiginosamente ou em modo de "suspensão". Sempre apreciando as vistas.

Imagem retirada daqui