quinta-feira, 20 de julho de 2017

"Filmateatro" e o Plano Nacional de Cinema

Lembro-me de ter realizado um trabalho extra de Expressão Dramática. Ao reler o projeto, efetuo alterações mentalmente, defino os seguintes objetivos:


- inventar ou contar uma história,
- representar a história inventada ou contada,
- realizar o cenário, 
- definir e desenvolver o guarda roupa e a caracterização das personagens,
- entrevistar os alunos durante a execução do projeto,
- filmar as diferentes fases do projeto e a representação;
- visionar o filme final;
- Avaliar o projeto (em conjunto).

Na altura, houve uma preocupação clara durante todo o projeto: independentemente do número de alunos que integrasse a representação propriamente dita, era fundamental que todos sentissem que tinham um papel importante no produto final; que todos interiorizassem que sem a sua participação o resultado não seria o mesmo; que todos se considerassem protagonistas na função que desempenhavam; que todos participassem nas tomadas de decisão. Uns ficaram responsáveis por filmar, outros por entrevistar, outros por realizar o cenário e por aí adiante.
Na altura defini que a atividade seria para alunos do 4º ano do 1º ciclo do ensino básico e que a professora já teria experimentado todas as tarefas, individualmente, em anos anteriores - a professora acompanhava a maioria dos alunos desde o 1º ano. Hoje acrescentaria que o grupo estava habituado a definir e distribuir tarefas por todos em diferentes contextos; que o projeto tinha nascido a partir de uma discussão - teatro Vs cinema; que os alunos já tinham trabalhado em pequenos grupos para um projeto final de grande grupo.
Neste projeto, para além da Expressão Dramática seriam trabalhadas diversas áreas, tais como a Língua Portuguesa, Expressão Plástica, Tecnologias de Informação, entre outras. O produto final não seria a dramatização, mas sim a apresentação de como tudo foi feito. Daí a importância dada à área da entrevista e da da filmagem.
Foi um trabalho realizado no 1º semestre do 1º ano da licenciatura. Terá certamente várias lacunas, mas ao relê-lo continuo a identificar várias áreas de interesse. Até podem existir alunos que adoram a área da dramatização/da representação, já outros não se sentirão à vontade nessa área, preferirão outras. Um projeto multidisciplinar permite a participação de todos, tendo em conta os interesses de cada um. E se avaliarmos bem, a maioria das áreas podem ser transversais e integrar muitos dos objetivos definidos. O exemplo da Língua Portuguesa é flagrante, não está presente apenas na criação da história: está na representação;  está no planeamento da realização do cenário; está na descrição das personagens; está nas entrevistas; está nas instruções dadas durante as filmagens e nos objetivos definidos para as mesmas...
Acho que seria muito importante, na área da educação, deixarmos de nos focar tanto no produto final e passarmos a valorizar todo o processo. Neste caso, a representação final (se houvesse lugar para ela) até poderia correr muito mal, no entanto com o registo em filme (documentário) de como tudo foi criado o foco mudaria.

Chamei Filmateatro a este projeto. Soube recentemente, através de um grupo de facebook, que para além do Plano Nacional de Leitura, existe um Plano Nacional de Cinema. Bem-vindo sejas, que promovas a aproximação das crianças e dos jovens ao mundo do cinema que pode ser tão rico. A simples experiência de se ver uma animação e de se discutir a mensagem, a interpretação, a qualidade das imagens, a história ou as personagens pode ser, por si só, muito rica.

Na escola que o meu filho frequenta, entre os dias de banhos de piscina, os dias de guerra com pistolas de água, os dias de festa, os dias de culinária, os dias de pinturas e os dias de passeios, contemplados nas atividades de Verão, também há os dias de cinema (um filme projetado na parede do ginásio da escola), com pipocas e tudo.
E eu, com o meu lado crítico muito apurado, pergunto-me porque é que não se mantém este formato de atividades de Verão, com ambientes mais descontraídos (não é que nos restantes meses seja demasiado formal), com trabalhos mais improvisados do que planeados (não estou a descartar o planeamento, nada disso) durante todo o ano. E em todas as escolas.

Sugestão: Estou a pensar seriamente passar o telemóvel ou a máquina para as mãos do miúdo para ele filmar um dos nossos passeios. Se ele gostar, repetimos. Vou guardar o(s) registo(s) e vou chamar-lhe(s) "O mundo pelos teus olhos". Aproveitando os dias de cinema na escola, acho que chegou a hora de irmos ao cinema pela primeira vez.

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