sexta-feira, 28 de julho de 2017

À conversa com o meu filho #18 - Mais conversas esquecidas, mas mais animadas


Conversa I
- Gostas de vinho? - perguntou à Ama.
- Não gosto muito. - respondeu-lhe ela.
- A minha mãe e o meu pai gostam. Quando for grande também vou gostar...

Conversa II
 - Wã, gôn e sons afins. - Repete o miúdo enquanto vê a história de Os Três Porquinhos em chinês.
Já escrevi que não aguento os Porcos, não já!?

Conversa III
- Peço-lhe para estar quieto enquanto lhe corto as unhas. Não fica quieto. Zango-me e reclamo.
- Não quero que te zangues, mãe. Estás feliz? - pergunta-me enquanto me dá um beijo e me abraça.
Sacana!

Conversa IV
- Mamãzita e papazinho - é assim que nos trata nos últimos dias.
(Era assim. Esta fase, entretanto, já passou)

Conversa V
- Passámos uns dias fora e encontrámos uns amigos. Um dos casais tem uma filha que foi elogiada da seguinte forma: Pareces uma sereia! (Isto já foi em Abril).
Vá lá, não lhe chamar sereia, gata com rabo de baleia (Musical Capitão Miau Miau).

Conversa VI
- Filho, andas a preparar surpresas para a festa do dia da mãe?
- É segredo, não podemos dizer às mães. Nem a ti.
Ninguém me mandou perguntar.
(Isto foi em Maio... claro, o dia da mãe é sempre em Maio)

Conversa VII
- O pai pede-me queijo, eu reclamo que tenho pouco... O miúdo grita da casa de banho: temos de partilhar.

Conversa VIII
- Quando alguma coisa não lhe agrada, ele diz alto a seguinte frase: Ai mãe do Céu.

Conversa IX
- Filho, sabes que, para mim, és a pessoa mais importante do mundo?
- Ele olha-me nos olhos fixamente.
- Sim, és.
- A sério!? - pergunta-me espantado.
Filho, já to disse tantas vezes... Já percebi que nunca é demais dizê-lo.

Conversa X
- Mãe, quando fores pequenina vais para a minha barriga?
- Não filho, a mãe já foi pequenina. Estive na barriga da minha mãe, que é a tua avó, tal como tu estiveste na minha.
- Como?
- O pai pôs uma semente na barriga da mãe.
- Como? Pela boca? Comeste a semente?
... (tive de lhe contar a história verdadeira).

Conversa XI
Saímos da serra e lá no alto estava a lua, ainda tímida e escondida, mas a querer mostrar-se. Chegámos a casa e lá estava ela novamente, já mais descarada e nítida.
Ele perguntou-me: Mãe porque é que a lua anda? E lembrei-me desta conversa com a miúda e desta história dedicada a ela.
Se estivesse em casa com o miúdo, na modalidade de ensino doméstico, por exemplo, seria este o tipo de questões que aproveitaria para trabalhar com ele as mais diversas áreas.

À conversa com o meu filho #17 - Conversas esquecidas na pasta dos rascunhos

Encontrei este rascunho esquecido.

- Mãe, não te quero perder.
- Filho, não me vais perder...
- E ao pai?
- Também não, meu amor.
- Uma vez perdi o pai. (Teve um pesadelo em que perdia o pai, ainda não o esqueceu).

Há umas semanas perguntou ao pai se eu ia morrer. (Madeira, madeira, madeira). Depois, seguiu-se a seguinte conversa:
- Mãe não quero que morras. Vais morrer?
- Só daqui a muito tempo, quando for muito velhinha. e quando tu também fores muito velhinho.
- Daqui a umas semanas? - perguntou ele.
- Não filho, ainda falta muito tempo para ser velhinha.
- Não mãe, tu já foste velhinha. E eu também.
- Então isso significa que vamos voltar a ser meninos os dois, filho?
- Tu vais ser menina, mãe. (se tu o dizes, filho, eu acredito).
Arrependi-me desta conversa, pelo menos com este discurso. Ele não tem noção o que é daqui a muito tempo, nem o que é ser muito velhinha/o, nem quanto tempo vou demorar a ficar velhinha. Ele tem uma avó velhinha, mais velha do que as outras, mas não sabe quanto tempo é que ela levou para chegar ao estatuto de "muito velhinha".
No final tentei tranquilizá-lo, disse-lhe que estarei sempre por perto; que se não estiver, mesmo que seja por pouco tempo, as pessoas que gostam dele estarão disponíveis para para cuidar dele e para o ajudar; falámos das pessoas que gostam dele e que lhe são próximas. Acrescentei ainda que, mesmo estando por perto, se necessitar de ajuda, há gente disponível para me ajudar.
Dias depois voltou à carga: Mãe, não quero que vás para o céu como o teu pai... Mais um agradecimento à querida tia por falar de "realidade" com o miúdo.

Não quero morrer cedo, não quero morrer nova, acredito que a maioria das pessoas não quer. Quero viver bem, com saúde física e psicológica. Não quero viver vazia de recordações, não quero esquecer o que vivi, não quero deixar de me lembrar da pessoa que sou. Confesso que um dos meus medos é "desaparecer" cedo, antes de o ver crescido, formado no curso da vida que ele escolher, adulto realizado, velho, amigo, saudável, feliz. Há medos que ganham tamanho depois de sermos mães, este é um deles.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Excertos dos nossos dias e desejo para o fim de semana

No fim de semana passado decidi ir à piscina (recreativa) com o miúdo. Só eu é que pago, entramos os dois, divertimo-nos dentro de água e eu ainda faço algum exercício físico. Aproveitamos o material que os professores utilizam nas aulas.
Andava a fazer contas para inscrevê-lo na natação, estava complicado, decidi agora que vamos os dois uma vez por semana: fica mais barato e se não pudermos ir, não pagamos nem perdemos aulas. Não é a mesma coisa, eu sei, mas desta forma conseguimos ir os dois e pagamos menos.

Num dos dias de parque, a diversão (deles... e minha também, vá) centrou-se em atirar a bola a 3 miúdos cheios de energia que estavam empoleirados na casa do parque: atirava a bola ao primeiro e ele atirava para mim, depois repetia a brincadeira com o segundo, por fim com o terceiro. Repetimos isto dezenas de vezes. No final desta brincadeira senti-me com dois dias de trabalho em cima, bolas, preciso de vitaminas para os acompanhar.

Num outro dia, saí às 17h, apanhei-o às 17h15 e "voámos" até à praia, fomos ao encontro da prima, da tia e da avó. Não foi planeado, se tivesse sido não tinha sido tão bom. Vamos repetir. Da próxima vez escolhemos a sexta feira e levamos jantar, se no regresso, o miúdo adormecer no carro, dorme salgado, paciência. Escolho a sexta feira porque não há horários para cumprir no dia seguinte e porque sinto que quando começo a aproveitar o fim de semana à sexta feira ele é muito maior (cheguei a esta "grande" conclusão há algum tempo). Assim sendo, comecemos o fim de semana à sexta feira.

Por falar em fim de semana, gostava muito de ir até Porto Covo, assistir a um concerto com o miúdo no Festival Músicas do Mundo. Gostava de ouvir (ao vivo) um bocadinho disto:


Lembro-me de ir a este festival há uns anos numa roulote que a minha mãe tinha, de fazer as refeições ao ar livre e de tomar banho (com bikini vestido, não exageremos) nas torneiras de jardim/rega. Hoje, com o miúdo a reboque, queria tanto ter uma auto caravana. Não só para ir a este festival, mas para poder passar fins de semana fora todas as semanas. Isto não é propriamente um desejo de fim de semana, mas sim do mês/do semestre/do ano/por este andar, da década.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

"Filmateatro" e o Plano Nacional de Cinema

Lembro-me de ter realizado um trabalho extra de Expressão Dramática. Ao reler o projeto, efetuo alterações mentalmente, defino os seguintes objetivos:


- inventar ou contar uma história,
- representar a história inventada ou contada,
- realizar o cenário, 
- definir e desenvolver o guarda roupa e a caracterização das personagens,
- entrevistar os alunos durante a execução do projeto,
- filmar as diferentes fases do projeto e a representação;
- visionar o filme final;
- Avaliar o projeto (em conjunto).

Na altura, houve uma preocupação clara durante todo o projeto: independentemente do número de alunos que integrasse a representação propriamente dita, era fundamental que todos sentissem que tinham um papel importante no produto final; que todos interiorizassem que sem a sua participação o resultado não seria o mesmo; que todos se considerassem protagonistas na função que desempenhavam; que todos participassem nas tomadas de decisão. Uns ficaram responsáveis por filmar, outros por entrevistar, outros por realizar o cenário e por aí adiante.
Na altura defini que a atividade seria para alunos do 4º ano do 1º ciclo do ensino básico e que a professora já teria experimentado todas as tarefas, individualmente, em anos anteriores - a professora acompanhava a maioria dos alunos desde o 1º ano. Hoje acrescentaria que o grupo estava habituado a definir e distribuir tarefas por todos em diferentes contextos; que o projeto tinha nascido a partir de uma discussão - teatro Vs cinema; que os alunos já tinham trabalhado em pequenos grupos para um projeto final de grande grupo.
Neste projeto, para além da Expressão Dramática seriam trabalhadas diversas áreas, tais como a Língua Portuguesa, Expressão Plástica, Tecnologias de Informação, entre outras. O produto final não seria a dramatização, mas sim a apresentação de como tudo foi feito. Daí a importância dada à área da entrevista e da da filmagem.
Foi um trabalho realizado no 1º semestre do 1º ano da licenciatura. Terá certamente várias lacunas, mas ao relê-lo continuo a identificar várias áreas de interesse. Até podem existir alunos que adoram a área da dramatização/da representação, já outros não se sentirão à vontade nessa área, preferirão outras. Um projeto multidisciplinar permite a participação de todos, tendo em conta os interesses de cada um. E se avaliarmos bem, a maioria das áreas podem ser transversais e integrar muitos dos objetivos definidos. O exemplo da Língua Portuguesa é flagrante, não está presente apenas na criação da história: está na representação;  está no planeamento da realização do cenário; está na descrição das personagens; está nas entrevistas; está nas instruções dadas durante as filmagens e nos objetivos definidos para as mesmas...
Acho que seria muito importante, na área da educação, deixarmos de nos focar tanto no produto final e passarmos a valorizar todo o processo. Neste caso, a representação final (se houvesse lugar para ela) até poderia correr muito mal, no entanto com o registo em filme (documentário) de como tudo foi criado o foco mudaria.

Chamei Filmateatro a este projeto. Soube recentemente, através de um grupo de facebook, que para além do Plano Nacional de Leitura, existe um Plano Nacional de Cinema. Bem-vindo sejas, que promovas a aproximação das crianças e dos jovens ao mundo do cinema que pode ser tão rico. A simples experiência de se ver uma animação e de se discutir a mensagem, a interpretação, a qualidade das imagens, a história ou as personagens pode ser, por si só, muito rica.

Na escola que o meu filho frequenta, entre os dias de banhos de piscina, os dias de guerra com pistolas de água, os dias de festa, os dias de culinária, os dias de pinturas e os dias de passeios, contemplados nas atividades de Verão, também há os dias de cinema (um filme projetado na parede do ginásio da escola), com pipocas e tudo.
E eu, com o meu lado crítico muito apurado, pergunto-me porque é que não se mantém este formato de atividades de Verão, com ambientes mais descontraídos (não é que nos restantes meses seja demasiado formal), com trabalhos mais improvisados do que planeados (não estou a descartar o planeamento, nada disso) durante todo o ano. E em todas as escolas.

Sugestão: Estou a pensar seriamente passar o telemóvel ou a máquina para as mãos do miúdo para ele filmar um dos nossos passeios. Se ele gostar, repetimos. Vou guardar o(s) registo(s) e vou chamar-lhe(s) "O mundo pelos teus olhos". Aproveitando os dias de cinema na escola, acho que chegou a hora de irmos ao cinema pela primeira vez.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Palco Vs Arraial

Na escola que o meu filho frequentou de Setembro de 2016 a Abril de 2017 houve actuações na festa de Natal. Na escola que o meu filho frequenta atualmente não houve actuçaões na festa de final de ano, houve um Arraial inspirado nos costumes e tradições da terra onde vivemos, com gente vestida a rigor (opcional), com jogos tradicionais, com bancas de atividades (pintar um t-shirt, por exemplo), com rancho, com comes e bebes, com o parque da escola à disposição de todos. Assim sendo, sinto-me à vontade para falar destas duas experiências.
Em relação à actuação na festa de Natal, estive numa das primeiras filas (não, não comprei bilhete; sei que em algumas escolas se vendem bilhetes, mas não foi o caso) com o telemóvel na mão à espera que chegasse a vez da minha criança atuar. Um orgulho parvo, mas legítimo, ao ver o meu miúdo em cima do palco com os trajes (simples e giros) feitos pelas educadoras. Cantaram uma versão Brasileira da música que andaram a ensaiar semanas antes da festa, uma vez que a original desapareceu da Pen. Raio das tecnologias, quando decidem trocar-nos as voltas não há grande coisa a fazer. Não me pareceu que os miúdos sentissem algum tipo de pressão por estarem em cima do palco. O que me pareceu foi que o espectáculo acabou por ser uma grande seca para eles (e para nós): a espera dele para subir ao palco e a minha espera para o ver; ver todas as atuações sentado; o silêncio imposto que por vezes não se cumpria... Enfim, não saí assim que o miúdo terminou a atuação por vergonha, mas tive vontade. Os miúdos não gostam de estar tanto tempo sentados e quietos. E os pais, por vezes, também não.

Imagem retirada daqui 

No Arraial, pediram-nos para irmos vestidos a rigor ou, pelo menos, levarmos um acessório alusivo ao tema. Não houve atuações. Eu, que até gosto de passar despercebida, esforcei-me para irmos vestidos a rigor da cabeça aos pés: eu, o pai, o miúdo e a prima. A miúda estava feliz da vida por vestir uma saia com roda: rodopiou, rodopiou e interpretou o papel de forma exemplar. O miúdo pelo simples facto de ter uns suspensórios estava feliz da vida, não por ir vestido a rigor, mas porque associou aquele acessório ao porquinho mais velho (já cá faltavam os porcos). Eu, por incrível que pareça, até um lenço na cabeça levei (claro que tive de pedir à educadora do miúdo para mo pôr). O pai alinhou sem resistência e vestiu um fato a condizer. Eles brincaram. Participámos nos jogos que quisemos. Assistimos à atuação do rancho. Comemos e bebemos. E eles brincaram novamente até se cansarem. Preferimos o Arraial, é mais o nosso estilo.

 Imagem retirada daqui

Não quero desvalorizar o palco, até porque o considero muito importante. No entanto o formato de comemoração centrada em atuações nem sempre resulta, principalmente para as faixas etárias mais baixas.
Considero ainda que a pressão, por vezes, imposta (não foi o caso, foram atuações muito simples) é completamente desadequada neste contexto. É suposto que estas comemorações sejam momentos de festejo e de diversão, não de castigo. Os miúdos não fizeram mal a ninguém. E os pais também não.
Por fim, o formato Arraial promove a aproximação dos pais à escola e possibilita um maior convívio entre pais e a comunidade escolar. No formato das atuações não tive oportunidade de falar com outros pais nem com a as educadoras, por exemplo. Acho que o Arraial (quem diz Arraial, diz piquenique) é mais centrado na interação do que na apresentação/exposição do que se conseguiu, ou não, fazer.
Pela minha experiência, neste contexto, ganha o Arraial. O palco (em exclusivo) fica reservado para outras andanças. 

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Grandes livros para pequenos leitores #26 - Papá, por favor, apanha-me a lua

Histórias que relatam momentos felizes entre pai e filha ou que narram pedaços de vida de um pai dedicados a uma filha, sensibilizam-me - deve ser o "fantasma" de nunca me ter sentido a menina do papá, ou melhor, deve ser o facto (real e não fantasmagórico) de nunca ter sido a menina do papá. Esta história é um desses exemplos. Mais um livro que requisitámos na Biblioteca.
A Mónica quer a lua e pede ao pai que a apanhe. Tal como muitas outras crianças, a Mónica quer coisas inatingíveis. Mas será a lua uma dessas coisas?

Uma coisa não podemos negar: o pai tenta apanhar-lhe a lua.


E esforça-se.


Através do seu esforço, descobrimos que a lua não tem sempre o mesmo tamanho nem o mesmo formato.
Por vezes fica mais pequena...


Outras vezes, cresce...



Em contexto escolar (ou familiar), quando um educador ou professor quiser falar do amor que os pais sentem pelos filhos ou quando quiser falar das coisas que um pai é capaz de fazer pelos filhos, pode aproveitar esta história. Também pode aproveitá-la para falar de como devemos lutar para alcançar o que queremos.  E, claro, através dela pode falar das fases da lua, pode sugerir a construção da lua em 3D nas suas diferentes fases, pode lançar a discussão sobre as mudanças observadas, pode incentivar as crianças a observar a realidade da lua todas as noites durante um determinado período de tempo.

É um livro de Eric Carle, da editora Kalandraka. Adorei as imagens, o texto e a mensagem.