domingo, 27 de dezembro de 2015

O menino que vestia livros

Era uma vez um menino que no dia em que nasceu, em vez de uma manta quente e macia, foi embrulhado em livros velhos. Os seus pais viviam num país distante, longe da família e dos amigos, com poucas hipóteses de comprar roupas macias e confortáveis, lençóis de algodão ou mantas quentes. Decidiram então, fazer das folhas de livros velhos, que outros dispensavam, a primeira roupa para o seu bebé. À medida que selecionavam os livros que utilizariam no fabrico da delicada roupa, iam descobrindo que o "Planeta dos Livros" é imenso. Até ali nunca tinham imaginado que existiam tantas espécies de livros; classificados por idades, de acordo com a ilustração, de acordo com o objetivo, de acordo com os materiais de que são feitos. A variedade era tão grande que eles sentiram necessidade de pesquisar mais sobre o novo (para eles) e admirável mundo desconhecido. Para os ajudar nesta tarefa, recorreram ao bibliotecário da Aldeia que lhes permitia longas estadias na Biblioteca. Desta forma descobriram, pesquisando, uma grande variedade de livros e conseguiram aprender, também através de um livro, a remendar e a costurar.
Todos os livros que outros não queriam, todos os livros cuja data de validade tinha sido ultrapassada (porque não eram adequados a determinadas idades ou porque estavam fora de moda), todos os livros desperdiçados por terem menos uma ou mais páginas, todos os livros com os cantos roídos, foram aproveitados pelos pais do menino que nasceu no país longínquo e que nada tinha para vestir no dia em que nasceu.
Os livros de tecido foram aproveitados para fazer o interior da roupa, para que o menino se sentisse confortável.
Os livros sem ilustrações foram utilizados para fazer as calças com um padrão mais sóbrio.
Dos livros profusamente ilustrados, fizeram-se camisolas divertidas e cheias de cores, para que o menino, através do seu olhar curioso, pudesse descobrir as cores. Das capas rijas, fizeram-se moldes para os sapatos e para um chapéu a condizer.
Depois do primeiro conjunto de roupa, os pais decidiram que, até encontrarem outra solução, iriam aperfeiçoar a técnica de utilização de livros para a realização de roupa. E assim foi: tornaram-se especialistas na arte de tricotar livros; inventaram uma nova moda; começaram a receber encomendas de todos os lados do mundo. Os embrulhos que colocavam na caixa do correio na altura do Natal, para os familiares e amigos distantes, levavam sempre uma lembrança personalizada tricotada com entusiasmo. Eram presentes originais e inesquecíveis, com mensagens personalizadas, únicos e feitos à medida de cada um.
O menino, devido ao contacto precoce com o mundo dos livros, cedo demonstrou aptidão para as letras e para o desenho. Quando cresceu, tornou-se num grande escritor e ilustrador e era conhecido mundialmente como o escritor que escrevia e vestia livros.

Filho, esta história é baseada em todas as vezes que nos pediste fita cola para arranjar os livros que rasgaste; é inspirada nas nossas visitas à biblioteca e em todas as noites que nos pediste, baixinho, para contar uma, duas, três ou mais histórias antes de dormires.
Arranjar livros já foi um dos teus passatempos preferidos. E rasgar também... De vez em quando, ainda o é. És o nosso mini-costureiro de livros.
Hoje, neste dia 27, fazes 27 meses. "Casas" os meses meu amor pequenino. Parabéns e obrigada por tornares tudo isto tão perfeito e com tanto sentido. 

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