segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Utopia #3 - Ensino igual para todos!? Não, obrigada.

Eu não desejo uma escola igual para todos. Não desejo que todos aprendam Inglês aos 3 anos. Não desejo que todos cantem na perfeição na festa de Natal. Não desejo que todos aprendam a cortar, a pintar e a desenhar ao mesmo tempo. Não desejo que leiam em simultâneo e em voz alta o mesmo texto. Não desejo que todos reconheçam e vivam a Natureza da mesma maneira. Não desejo que papagueiem a tabuada ou o nome dos rios a uma só voz. Não desejo que todos cortem a meta em primeiro lugar. Não desejo nada disto, até porque acho que isto não existe no mundo real. Existe no papel, com metas específicas para tudo.
O que eu desejo é que respeitem o ritmo, as experiências e as vivências que cada criança traz quando chega ao Jardim de Infância ou à Escola. Que a incentivem a partilhar o que sabe, a respeitar e a ouvir o outro. Que a instiguem a questionar o que não compreende. Que a preparem para a resolução de problemas. Que a façam imaginar e sonhar. Que a deixem fantasiar e brincar. Muito. Que a ouçam. Que a criança tenha um papel ativo no seu próprio desenvolvimento. Que a façam compreender a vida em sociedade e o motivo de existirem regras (regras gerais, não regras para tudo e mais alguma coisa). Que lhe ensinem a liberdade. Que a orientem para a descoberta de si mesma, para a descoberta do mundo e para o respeito pelo meio ambiente. Que valorizem o ensino pela Arte e para a Arte. Que compreendam que ela tem preferências e gostos próprios. Desejo que a respeitem como pessoa que é.
Gostava mesmo que a escola em Portugal fosse assim. Assim sim, para todos. Uma escola com oportunidade para todos, sim. Com um método de ensino transmissivo e igual para todos, não.
É difícil encontrar uma escola que defenda os valores que, para mim, são importantes. É difícil encontrá-la na minha área de residência e a a preços suportáveis. Mas tenho de tentar. A alternativa é criar uma de raiz... Pois, parece-me utopia!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A viagem na carrinha do pai Pirata

O Índio Pirata, com quase 2 anos, não frequentava a creche; enquanto os pais iam trabalhar, o pequeno Pirata ficava com a Carmo, uma senhora com uma imagem muito delicada e uma pessoa muito doce. Era muito paciente, muito meiga e tinha um jeito inato para cuidar de crianças. Não eram poucas as vezes que eram vistos a passear: ora eram vistos na estação a ver passar os comboios, ora eram vistos a comer uma torrada no café da esquina ou, simplesmente, a dar uma volta ao quarteirão logo pela manhã. Por vezes, também eram vistos no parque em correrias e brincadeiras. O Índio Pirata chegava ao final do dia cansado de tanta brincadeira e as nódoas estampadas na sua roupa espelhavam bem o quanto ele tinha liberdade para se divertir. 
Antes de iniciar os dias com a Carmo, o pai Pirata levava o pequeno Índio numa carrinha especial. Criaram, com esta pequena viagem matinal, uma rotina só deles em que a mãe Índia era excluída. O transporte escolhido foi uma carrinha branca antiga e alta com umas escadas na porta traseira. O Índio Pirata sempre que via passar carrinhas semelhantes gritava pela carrinha do pai e quando o via chegar, ao final do dia, sorria com orgulho. Era a carrinha dos dois.
Era o argumento de ir na carrinha do pai que acalmava o Índio Pirata quando as birras matinais espreitavam. Era na mesma carrinha, com a cadeira do Índio no banco da frente, que o pai lavava os vidros com água do pára brisas. Era à porta grande e pesada desta carrinha que a mãe Índia, em dias em que descia as escadas para ajudar o pai Pirata com os sacos, se despedia dos dois. Era nesta pequena viagem que os dois se divertiam a ouvir música e criavam rotinas a dois. Só dos dois. E à noite, antes de dormirem, conversavam sobre a primeira viagem do dia, como se todos os dias acontecessem coisas diferentes e tivessem novidades para contar.
A mãe Índia desconfiava das peripécias que eles contavam, desconfiava até que eles as inventavam. Umas vezes era a Gata de saltos altos, carregada com os sacos das compras, que ralhava com eles porque iam muito depressa. Outras, era o cão perna longa que se vestia de polícia sinaleiro e os mandava parar só para ouvir a música que eles ouviam de manhã. Algumas vezes, era o pombo que viveu na varanda Este que lhes pedia boleia. Outras ainda, era a desculpa de o comboio ter estacionado na Rua dos Inventores. Até o pato do tio Carlos lhes aparecia para tomar banho com a água do pára-brisas da carrinha. Tudo servia de desculpa para justificar os seus atrasos. A verdade é que eles todos os dias se divertiam, todos os dias tinham uma novidade; nunca saberemos se as histórias que contavam eram verdadeiras ou falsas. É e será sempre um segredo entre o pai, o filho e a carrinha. A carrinha que os conduzia neste percurso era especial, muito especial, não abria a boca para contar nada do que se passava nas viagens matinais. Quase que se pode afirmar que as aventuras matinais eram a três.
Um dia, a carrinha branca, já velhinha, deixou de conseguir fazer a viagem matinal. Estava cansada, não suportava tanta emoção e tanto passeio logo de manhã. Decidiu que iria viver junto ao mar, mudar de visual, descansar e fazer caminhadas curtas. Combinaram, no entanto, que continuariam a viajar juntos 1 vez por semana, com as peripécias e alegria do costume. A frequência com que viajavam na carrinha diminuiu, mas o carinho que sentiam por ela perdurou.
A carrinha branca depois de ter mudado de visual e de ter ido viver para a beira mar:


Créditos de imagem: Wishªcolor

Filho, tu fizeste muitas viagens com o teu pai na carrinha branca de que fala o texto. Este era, efetivamente, um momento dos dois, eu não ia convosco de manhã. É claro que a parte dos animais é invenção minha, no entanto, a água nos vidros, a música e a euforia com que faziam aquela viagem são reais.
Fazendo a analogia com a carrinha do texto, lembra-te que as pessoas, por vezes, deixam de nos poder ajudar/apoiar/acompanhar. Por vezes, não nos podem valer. O importante é que nos valeram, nem que tenha sido uma única vez. O importante é que reconheçamos e sejamos gratos por isso. Ninguém deixa de ser importante para nós só porque deixa de nos ser útil.
Hoje, fazes 23 meses. Parabéns, Índio Pirata da mãe.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nos últimos dias...

- O meu filho já convida amigos para jantar. Agora teima em levar o Pirata e o Peter Pan para a mesa, faz-me pôr uma colher de sopa numa tigela pequena e dá comer aos amigos. Se decido que terminou a brincadeira (a bagunça), ele chora. Muito. Com lágrimas e tudo. 
Começaram por ser amigos do banho, passaram a comer connosco à mesa e, agora, já dormem na nossa cama. O que é que se segue?
- Do alto do nosso terceiro andar, pela janela do quarto, descobre que o carro da tia está lá em baixo e grita "Olha, popó da tia". Como é que é possível ele reconhecer o carro da tia? Lembro-me de ir passear com o meu afilhado, ele era pequenino, olhava para os símbolos e dizia-me as marcas dos carros. Já eu, com esta idade, tenho de pensar bem qual é a marca do carro da minha irmã. E da minha mãe. E de qualquer pessoa. Sei qual é a marca do nosso e é uma sorte.
- Adora ver garagens. Fica eufórico quando vê aquela porta grande e imponente a abrir, quando vê os carros saírem lá de dentro. Relativamente a algumas garagens, diz que os carros sobem a rampa e vão para a estrada.
- Vamos ao parque, empoleira-se no escorrega grande e chama pela prima e pela tia. Depois diz que não estão cá, que estão em Lisboa.
- Nos últimos dias o pai retira-o da cadeira que está na carrinha e coloca-o ao volante. Ele mexe nos botões do rádio, no volante, nos piscas, nos botões do pára brisas e buzina. É uma festa.
- Pergunta repetidamente: Como chamas? Eu digo o meu primeiro nome, ele diz o segundo.
- Não quer ir para casa, por ele estávamos sempre na rua. Culpa minha.
- Fala ao telefone com o avô, diz que ele tem bigode.
- Anda louco com os comboios, adora ir vê-los à estação.
- Eu ando louca com ele, adoro-o! Cada vez mais.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

De todo o amor que tu tens (Maria), metade foi ele que te deu

Durante o fim de semana passado, cada vez que o meu bebé chamava pelo pai, eu lembrava-me da Maria. Quando eles foram andar de bicicleta, eu lembrei-me da Maria. Quando riram à gargalhada, eu lembrei-me da Maria. Quando nos deitámos os três na cama a fazer cócegas uns aos outros e a brincar ao esconde-esconde, eu lembrei-me da Maria. Quando fomos passear os três, eu lembrei-me da Maria. É que a pequena Maria perdeu de forma trágica o seu melhor amigo. O pai. Um pai louco por ela que já deixa saudades. 
Eu sinto que é injusto que a Maria, tendo um pai tão louco por ela como ele, não possa olhar para ele procurando incentivo quando tiver medo de avançar. Que não possa correr para os braços dele depois de um dia de escola. Que não possa adormecer no ombro dele quando o sono demorar a chegar. Que não possa gritar pelo pai quando algum monstro lhe aparecer em pesadelo. Que não tenha oportunidade de descobrir que, afinal, ele é que é o Pai Natal. Que não mergulhe no mar sob o olhar atento dele. Que não possa chorar ao colo dele quando alguém a magoar. Que não sopre as velas dos bolos de aniversário com o sorriso dele orgulhoso dela. Que não cresça ao mesmo tempo que ele envelhece. Que não possa ouvir da boca dele o quanto ele a ama.
É triste, é injusto e eu não tenho palavras para descrever isto. Não posso dizer que era amiga próxima do pai da Maria, mas conhecia-o e lamento. Muito. A opinião acerca da pessoa que ele era é unânime: ele era um miúdo excecional, bom pai, bom filho, bom marido, bom irmão, bom familiar, bom amigo. Deixa saudades e um vazio imenso e indescritível. Era uma grande pessoa.
Ele não vai ver como a Maria vai superar os obstáculos da vida, mas ela vai vencê-los. Não vai ver como ela vai fintar a tristeza quanto esta teimar em cumprimentá-la, mas ela será uma menina feliz cheia de luz. Não vai ver como será a sua infância e a sua adolescência, mas ela será uma bela mulher, com boa índole e com um percurso de vida cheio de felicidade. Estas são algumas das coisas que eu desejo para a pequena Maria.

Acredito que como diz Maria Gadú na sua "Dona Cila":

"De todo o amor que tu tens (Maria)
Metade foi ele que te deu
Salvando a tua alma da vida
Sorrindo e fazendo o teu eu

Se ele quis (talvez ele não quisesse) partir e ir embora
Olhará para ti (Maria) de onde estiver..."

Adaptado e dedicado à Maria. Felicidades pequena Maria! Até sempre pai da Maria!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Eu tenho uma tia-irmã e ela faz anos hoje!

Eu tenho uma tia-irmã e ela faz anos hoje. Ela é irmã da minha mãe. Tem menos 1 ano do que eu. Chegámos a viver juntas. Andámos, até uma certa idade, nas mesmas escolas. Eu defendia-a dos matulões (um tinha a alcunha de ratinho, vejam só o tão forte que eu era para enfrentar um... ratinho). Somos diferentes, mas descobrimos muitas coisas da infância e da adolescência juntas. Tivemos muitas zangas na infância, deixávamos mesmo de nos falar. Nunca mais nos deixámos de falar desde o dia em que a minha bisavó (avó dela) morreu, desde o dia em que a minha tia-irmã bateu à porta da minha casa para me dar a notícia com lágrimas nos olhos e voz trémula. Acho que aprendemos nesse dia que tínhamos de aproveitar mais a nossa amizade. Fizemos muitas viagens de comboio em que fingíamos falar Inglês, Chinês e Alemão (um cruzamentos destas 3 línguas, vá). Fizemos muitas viagens de comboio em que cantávamos (uma das músicas, e disso eu lembro-me, era a Cinderela do Carlos Paião). Conhecemos muitos sítios juntas (fomos a muitas excursões). Brincámos juntas tantas vezes, tantas, tantas. Dormimos muitas vezes naqueles compartimentos dos comboios da CP que faziam o percurso Barreiro-Algarve. Simulámos que cada uma de nós vivia em determinada divisão da casa e criámos muitas brincadeiras à volta disso. Passámos férias grandes e pequenas juntas. Começámos a namorar (a sério) na mesma altura. Crescemos e não nos separámos. Fomos e somos confidentes. Não deixámos de nos preocupar uma com a outra. Eu sou madrinha do filho dela. Ela é madrinha do meu filho. Eu gosto mesmo muito dela. Ela faz parte das minhas pessoas. É verdade, eu que não sou nada de possessividades, tenho pessoas... no coração. Que lamechas que eu estou. Parabéns tia-irmã, nem é preciso escrever o bem que te desejo, está implícito no que continuamos a ser uma para outra. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A brincar é que a gente (pequena) se entende #5 - Caça ao tesouro/Descobrir o jardim

SENTIDO DE ORIENTAÇÃO: QUANDO ELE QUER IR PARA UM LADO E EU PARA OUTRO
Vou muitas vezes ao parque com o catraio. Já o escrevi antes. 
Anteontem fui buscá-lo já com o parque infantil marcado no GPS (no meu). Chegámos ao Jardim, perguntei-lhe de que lado fica o portão do parque, deixei-o guiar-me, deixei-o correr à minha frente. Ignorou a minha questão, fez pisca e virou para o lado contrário. O coreto chamou por ele e ele, ignorando as minhas vontades, foi atrás dele. Quis subir as escadas do coreto, abrir as portas do coreto, correr à volta dele. Eu, de vez em quando, lá lhe perguntava se queria ir ao parque, mas ele ignorava-me. A dada altura perguntou-me pela porta de entrada, baralhou-se com o facto de andar à volta daquele palco. Eu respondi que tinha de tentar encontrá-la (vamos lá procurá-la, disse-lhe). Lá a encontrou, lá subiu e desceu as escadas várias vezes. Juntaram-se a ele duas meninas que fingiram estar num concerto. Ele lá correu, imitando-as e rindo. Rindo à gargalhada. Agora é isto, infiltra-se nas brincadeiras de miúdos mais crescidos, imita-os e ri como se eles estivessem a fazer ou a dizer alguma coisa com muita piada.
Saímos do coreto. Eu, com muita confiança de que iríamos para o parque, ele com vontade de correr. Correu em direção ao lago, depois em direção ao bebedouro, sentou-se no degrau, subiu para o banco de pedra. Só depois é que fomos para o parque porque, confesso, o peguei ao colo. 
Gosto que ele tenha opção de escolha, que experimente brincadeiras novas, que explore o meio em que estamos, que experimente alternativas, que não seja sempre orientado/ou guiado por nós. Só tenho de aprender a aceitar que ele tem um papel ativo no que respeita a decidir para onde vamos. Talvez eu quisesse mesmo ir ao parque, andar de baloiço, descer o escorrega, correr e cair. Mas, se essa era a minha vontade, tinha ido ao parque sozinha... Eu não digo que gosto mais do parque agora do que quando era pequena!?

Andar ou correr no jardim, andar à procura de um determinado sítio que está no jardim (o parque, a igreja, o coreto, o café, por exemplo), fazer uma corrida, perguntar-lhe para que lado fica isto ou aquilo e dar-lhe oportunidade de descobri-lo são formas de ele desenvolver o sentido de orientação. É que se for genético, a avaliar pelo meu (ou a falta dele), é bom começar a treiná-lo já.

Imagem retirada da Internet: fonte desconhecida

SUGESTÃO DE ATIVIDADE:
Com crianças mais velhas, podemos imprimir um mapa do jardim/sítio em questão (retiramos da Internet, do Google Earth, por exemplo). Assinalamos um percurso com um marcador de cor forte, com o ponto de partida e com o ponto de chegada assinalados com um círculo. Dependendo da idade, podemos pedir para ser a criança a identificar, no local, o ponto de partida que assinalámos no mapa. Convém que existam marcos do espaço bem visíveis, tais como, o lago, o parque infantil, etc.
Para além do percurso que têm de fazer, podemos dar instruções de desafios adaptados à idade em determinados pontos - "apanha três folhas do chão e guarda-as no saco que te entregaram no início do jogo", para crianças que comecem a ter a noção do que o número representa, por exemplo.
O percurso pode ser feito com dois grupos, com dois percursos diferentes, mas semelhantes em dimensão e em número e dificuldade dos desafios, de maneira a ver qual é o grupo que chega em primeiro lugar ao ponto de chegada. Ou não, depende da idade dos elementos de cada grupo.
Podemos aumentar o grau de dificuldade, deixando pistas em alguns pontos assinalados no mapa (por exemplo, segue em frente, vira à direita, descobre os paus de giz que estão perto do banco de madeira verde/faz um desenho no chão).
Podemos criar uma história em torno desta brincadeira. A imaginação de cada um é o limite e a idade e o desenvolvimento da(s) criança(s) também.
No ponto de chegada preparamos uma surpresa (um lanche para se fazer um pic-nic, um presente, um bilhete para ir ao cinema, uma ida à praia, etc.). Podemos chamar-lhe caça ao tesouro. É simples de preparar, toda a família pode participar e divertir-se.
Deixamos as crianças fazer a leitura do percurso assinalado no mapa, deixamos que se enganem, que recomecem, se for necessário. O importante é que se divirtam e que aproveitem os dias grandes para brincar na rua.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Reflexões profundas (ou não) #7 - Autonomia, refeições e chão limpo

Dar-lhe o comer à boca até aos 18 anos dava-me menos trabalho do que deixá-lo comer sozinho. 
É tudo muito bonito quando falam em ajudarmos os nossos filhos (no meu caso é só um, mas a avaliar pelo chão no final de cada refeição, parece que são 4) a serem mais autónomos, mas eu ainda estou à espera de recuperar a minha autonomia no que respeita a manter o chão da cozinha limpo. E quando aquela cabecinha decide que não quer mais e atira o prato para o chão!? É fofinho, não é? Eu também achava, quando via imagens de episódios semelhantes na Internet.
Comecei a explicar-lhe que quando não quiser mais só tem de dizer, "mamã/papá não quero mais"; que, depois de ele nos dizer que não quer mais, um de nós retira o prato de cima da mesa e coloca-o no lava-loiça. Ele olha para mim com ar de quem está a pensar: Que graça é que isso tem?

Imagem retirada daqui

Também já passámos pela fase de o miúdo fazer do prato um chapéu. Não nos podemos queixar que não tenha imaginação. Só do chão sujo. E da mesa suja. E da roupa suja. E do cabelo sujo. 
Agora, falando de coisas sérias, lá em cima também é um desabafo sério, defendo que eles comecem a comer sozinhos desde cedo, desde que queiram e consigam, que experimentem a textura de diferentes alimentos, que tenham opção de escolha. Facilito-lhe essas possibilidades há bastante tempo. Mas isso não invalida que não reivindique o chão da cozinha limpo. Um dia, esse dia chegará.

sábado, 15 de agosto de 2015

Sábado de manhã...

... Com temperaturas que não são de Verão.
... Com o pai a tentar explicar ao filho, durante 30 minutos, que deve comer o queijo com pão. Ele exemplifica ao dar uma dentada no pão e depois no queijo. O miúdo lambe o pão, simulando que lhe dá uma dentada, e come o queijo. Depois, deixa de pedir o queijo e começa a pedir o prato que tem o queijo e, com o seu jeitinho, lá vai comendo o queijo e deixando o pão. O pai diz que a mamã também está a comer o queijo com pão. Depois, olha para para mim e sussurra "ela não é um bom exemplo". Eu adoro queijo. Sem pão. Não compreendo essa pressão de se comer sempre pão com queijo. 
... Com o miúdo a dizer-me que a pata do livro está crescida, que a rã tem areia nos pés e que a temos de varrer. A dizer que o senhor que se está a afogar deu um mergulho. Ele conta as histórias através da descrição das imagens dos livros. Gosto disto.
... Com um passeio de bicicleta a três. Há anos que não andava de bicicleta!
... Com um almoço fora, barato, no sítio do costume.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

À conversa com a minha sobrinha #1 - Acerca do verbo concordar

Num dos passeios que fizemos durante as férias, a minha sobrinha perguntou porque é que as tias, as avós e os primos são mais simpáticos do que as mães. Assim, de repente, ocorreu-me explicar-lhe de forma muito simples e redutora um dos papéis que cada um tem na sua vida. 
Eu: A tia, a avó e o primo, tal como a tua mãe, adoram-te, mas não estão sempre contigo. Têm saudades tuas e quando estão contigo aproveitam para brincar e para te mimar, não perdem tempo a ralhar contigo. A mãe está sempre contigo e tem a preocupação de te ensinar o que é certo e o que é errado (de forma mais sistematizada, porque nós, os outros adultos, também a ensinamos), tem de te ensinar a fazer determinadas coisas. Tem de ralhar contigo sempre que fazes ou dizes alguma coisa que não é correta. Aborrece-te mais vezes por estes motivos, por isso nem sempre é tão simpática.
Concordas com isto?
Ela: Sim.
Silêncio.
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Eu (em pensamento): Resultou, sou mesmo boa nisto. 
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Ela: Tia, o que é que quer dizer concordar?
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Desisto...

Ir à farmácia com o miúdo, nunca mais

Vou à farmácia com o miúdo comprar umas coisas que o pai pediu. Tiro uma senha prioritária, passo à frente das pessoas que, por isso, olham para mim de lado. As pessoas ainda não interiorizaram muito bem o que são senhas e caixas prioritárias. Sou o centro das atenções. O miúdo aponta para umas embalagens tipo roll on que estão num expositor e diz em voz alta PAI. Eu não ligo. O empregado atende-me com bastante simpatia, excessiva até. Ao pagar finto o raio do expositor com mais atenção... As embalagens são da marca D-u-r-e-x. Saio com pouca vontade de lá voltar.

Eu juro que não temos nenhuma destas embalagens lá em casa. Se tivéssemos estava justificada a exclamação do miúdo. Nunca mais vai comigo à farmácia, está decidido.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Barómetro de crescimento #5

Há 1 ano e meio/1 ano e 10 meses choravas quando tinhas fome, quando tinhas frio, quando querias colo, quando tinhas dores. Basicamente, choravas por tudo o que te incomodava. Dizem que as mães reconhecem todos os tipos de choro. Temo não ter reconhecido algum, por vezes, não te consegui acalmar à primeira, nem à segunda... O de fome era, efetivamente, inconfundível, mas em relação aos restantes, tenho algumas dúvidas.

Hoje tudo mudou, compreendo-te, sei bem o que queres e o que precisas. É simples, tu dizes, tu pedes (vá, a minha capacidade de interpretação também melhorou bastante):
- Mamã! Anda cá mãe!
- Quer colo.
- Está frio/Está quente.
- Quer água.
- Quer leitito/Quer queijo/Quer pão/Quer boachas/Quer carnicha/Quer pesso (pêssego)...
- Chocoate, quer! É suposto nem saberes o que isto é, entendido?
- Quer rua.
- Olha! O avião/Olha! A garagia (garagem).
- O que foi?
- Quer ir ao parque/Quer ir à rua.
- A basaqueta/bachaqueta (bicicleta).
- Quer o capacete/capachete.
- Quer brincar?
- O livro!? Do coelho.
- A Júlia?
...

Hoje, a dificuldade não é a interpretação, mas sim o meu poder de argumentação a alguns dos teus quereres. Ora vejamos um exemplo de um dos nossos últimos diálogos:

Eu: Filho, quantos anos fazes?
Ele: Dôs (dois).
Eu: Vamos fazer uma festa!?
Ele: A Matilde.
Eu: Queres que a Matilde venha à tua festa?
Ele: Aqui!!
Eu: Queres que ela venha aqui?
Ele: Siiiiiiim.
Eu: Mas a festa não é aqui.
Ele: Aquiiiii!!
Eu: Aqui em casa casa!? Mau! Já começas? Tu só viste a Matilde 1 vez.

...Mas de vez em quando ele pergunta por ela. 

sábado, 8 de agosto de 2015

Menina-mulher, parabéns

Hoje telefonei-te e disse "bom dia alegria", com entusiasmo, como se estivéssemos estado juntas ontem à tarde - não estamos juntas há quase um ano. O meu filho estava empoleirado no comboio do parque e sorriu, um sorriso maravilhoso, como soubesse a pessoa espetacular que estava do outro lado da linha.
Tu és mulher. Tu cresceste, cuidas de ti mesma sozinha, sem nenhum apoio há muito tempo. Cuidaste e continuas a cuidar de muita gente, carregando sem te queixares o peso inerente a isso. Às vezes, o relógio da vida marca mal a hora da partida, engana-se aleatoriamente na atribuição das datas e das horas, e marcou a partida da tua mãe cedo demais, fazendo-te crescer à força. O raio do relógio também te levou um amor. O destino, que deve ser humano, enganou-se nos últimos anos de vida que definiu para o teu pai. Ou não. Talvez ele soubesse que aquele destino só podia ser para um pai que tivesse uma filha como tu. Tanto a tua mãe como o teu pai estão de parabéns por terem tido uma filha tão maravilhosa. Filha essa que és tu! Responsável, alegre, sentimental, simples, cuidadora e amiga. Que cresceu, não porque quisesse ser adulta, mas porque a vida a forçou a sê-lo.
Tu és menina. Ainda carregas a inocência da infância. Ainda acreditas, apesar de já questionares. Ainda te falta perspicácia para leres as pessoas, mas estás a adquiri-la. Recomeçaste como uma criança recomeça quando quer alguma coisa e já conseguiste realizar um dos teus grandes sonhos. E ainda vais conseguir alcançar mais, porque ainda não descobriste o verdadeiro valor que tens, o verdadeiro tesouro que és! Também és, ainda, menina por isso, porque não tens consciência.
Tu menina-mulher, com esse jeito desajeitado que te caracteriza, fazes anos hoje e eu estou mesmo feliz porque o destino te trouxe até à minha vida. E só me ocorre pedir ao destino que não se engane, que não te faça perder esse teu jeito desajeitado de menina-mulher e que te dê o que mereces. É que gosto mesmo muito de ti, porra! Gosto de ti assim, tal como és. Parabéns e deixa-te ser (assim).

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O Índio Pirata foi de férias

O Índio Pirata rumou a sul do seu país para uma semana de férias com os seus pais no final de Julho. Já tinha estado naquele distrito há cerca de 1 ano, mas é bem possível que não se lembre muito bem dos acontecimentos. 
A rotina diária das férias (bolas, até de férias há uma rotina, ainda que muito flexível) começava por acordarmos quando o galo Índio dava o grito de alvorada "Quero leitito". Passava por ter pequenos almoços tranquilos e sem pressas com pão quente que o pai ia buscar logo de manhã, por ir beber café na esplanada, por idas à praia até às 11h/11h30, por regressos a casa para dormidas e almoços sem pressas, por retomar as brincadeiras de praia às 17h, por passeios no carrinho, por regressos a casa sem stress. Os dias terminavam quando o sono chegava, por vezes, com passeios na rua que o faziam adormecer no carrinho.
Tínhamos 2 supermercados perto de casa, estávamos a 1 minuto a pé da praia e só pegámos no carro 1 dia para ir ao nosso amado concelho de Lagos.
Ele adorou a praia, as brincadeiras na água e com a água. Molhava as mãos na água salgada e levava-as à boca. Divertiu-se com a areia e comeu-a. Apanhou pedras à beira mar e não foram poucas as vezes que as tentou ingerir (não posso jurar que não tenha engolido alguma). Ele fez a sua primeira amiga de Verão, não sei se foi uma amizade colorida, ele não nos contou pormenores. Chama-se Júlia, vive na Suiça e tem quase o dobro da idade dele, mas daqui a uns anos a diferença de idades não se nota. Ele hesitou os pulos na água que habitualmente gosta, talvez por a água estar gelada, mas quando a via entrar na água lá corria para a beira mar como que a enfrentar o inimigo, só para se armar em forte. Comprámos-lhe uma pequena piscina que para um não era assim tão pequena, mas para dois tornou-se minúscula. No próximo ano teremos de ter em consideração eventuais amizades. Ele chegava à praia e lá vinha ela ter com ele e ele, de vez em quando, perguntava por ela. No último dia brincou num daqueles barcos que alugam na praia e saltou à corda (daquelas que estão na areia a delimitar zonas).
Andou muitos dias sem fralda, fez muito xixi no chão e até cocó. Também fez cocó no bacio, mas, sinceramente, acho que ainda não está preparado. Ou sou eu que não estou, não sei.
Ele andou descalço e nu pela casa. Subiu e desceu cadeiras e sofás. Comeu kiwi que se fartou e disse que era verde, já à melancia não achou tanta graça. Os seus brinquedos preferidos foram, um daqueles carrinhos de supermercado que nós pedimos emprestado para levar as compras no dia em que chegámos e que só devolvemos no último dia (desculpem lá senhores, mas o miúdo elegeu o vosso carro como o seu brinquedo preferido de férias), um garrafão de água vazio e o cesto das molas com as respetivas. A loucura. Comeu quase tudo sozinho e era habitual ver sopa por todo o lado e o chão todo sujo. O normal, portanto. Ajudou a lavar e a cortar as alfaces. Sempre que o mandámos pôr qualquer coisa no lixo, ele cumpriu. Rebolou muito no chão da sala. E o pai também.
No dia em que fomos a Lagos, brincou com a prima. Tomou duche numa espécie de chafariz/lago que há no centro da cidade. Almoçámos fora e viu as sapateiras e companhia que estavam no aquário do restaurante. Fomos os três, pela primeira vez, ao bar que costumamos ir sempre que passamos férias em Lagos. Foi tão bom estar lá com ele. A última vez que estivemos lá eu estava grávida, enjoada das unhas dos pés às pontas dos cabelos.
Regressámos a casa com algumas peripécias pelo caminho, mas felizes pelos dias de férias que tivemos e com pena de ter sido apenas 1 semana. O carro avariou, o miúdo teve febre no dia em que regressámos, apareceram-lhe borbulhas nas pernas e nos braços, fomos ao médico e o resultado foi um diagnóstico de amigdalite viral e desconhecimento acerca da origem das borbulhas (calor, alergia a alguma alimento, eventualmente), mas já andamos por aí a passear.
Agora, quando ouve algum barulho estranho ou uma conversa com um tom diferente pergunta "O que foi?". Está um cusco, é o que é. Continua a perguntar frequentemente "O que é ito?". Pergunta pela Júlia e pela Matilde. Fala mais, constrói mais frases. E eu, olho para as fotografias das férias do ano passado e comparo-as com as deste ano e vejo claramente o que ele cresceu: Está mais autónomo, está mais papagaio, está mais alto, faz-nos mais companhia, já tem opinião sobre o que quer e o que não quer. Do ano passado para este começou a andar, a falar, a embirrar. E nós continuamos a olhar para ele, a olhar para o que ele já faz, a olhar um para o outro e a sorrir, com aquele sorriso meio nervoso e orgulhoso igual ao que esboçávamos nos primeiros dias da sua existência.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Olá Agosto de 2015

Espelho, espelho meu, há algum mês mais bonito do que o meu?

Créditos de imagem: M.O.D

Adeus meu querido mês de Julho

A minha avó paterna fazia anos em Julho e foi em Julho que morreu. Não sei se gosto deste mês ou não, causa-me sempre sentimentos antagónicos. Mas sei que o nascimento dela se comemora em Julho, o que por si só o torna especial.
Este ano, fomos de férias em Julho. Comemorou-se o aniversário de 3 crianças conhecidas e o nosso 7º aniversário.
Julho, despedimo-nos de ti com saudades dos dias sem horas definidas para nada, dos passeios, das manhãs e das tardes de praia, da liberdade a que nos permitimos quando estamos de férias. Encontramo-nos em 2016!